26 de outubro de 2010

Monalisando

Este é um texto que não deveria ser. A alegria que seria e desistira no meio do caminho; a ausência brincando de esconde-esconde. E neste momento está um vento daqueles que dão um tapa com luva de pelica em qualquer solidão, talvez por isso estou aqui, escrevendo.

Aliás, é preciso que saiba que não quero nem preciso do sentido das frases bem
construídas, pontuadas, paragrafaseadas. Minha procura não é por orações ordenadas. Elas simplesmente vão chegando e sambando, sem senha ou nome em lista VIP. Samba de crioulo doido em festa de granfino, com boas doses de álcool para anestesiar o que quer que seja.

Antes de tudo, é preciso que saiba que minha querência, desde outrora, é sentir. Conversa pra outro momento, mas adianto que acho a significação de tal verbo subestimada. Intransitivo indireto, sem regras, normativas ou imposições e carregando consigo uma ironia peneirada, pronta pra me arrebatar. Tal qual minha intenção aqui.

Em algum momento, a queda. Não que seja difícil me derrubar, qualquer sorriso torto já é meio caminho andado. Qualquer promessa ou adivinhação de Esfinge. Não acha o difícil bonito? Eu acho. Além do difícil, um campo gravitacional me puxa em direção ao errado e isso é uma das coisas mais lindas que há. Deve ser poético assim como era morrer de tuberculose no século XIX. Isso é meu escarro hemoptóico. Afinal, se não fosse o perigo, o mundo politicamente correto seria intragável. Não sei você, mas eu não quero um mundo em que eu não possa sair por aí à toa, um mundo de sanções e repreensões, de convenções abstratas em que domesticariam aquilo que mais prezo: minha liberdade de ter o sorriso que eu bem entender.

Meu sorriso indeciso entre pedido de socorro, convite ao perigo ou ameaça de felicidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sorria, meu bem, sorria...do jeito que você quiser e que cada um entenda como melhor convir.

Eduardo Trindade disse...

O que dizer? Gosto, adoro essa intensidade posta em palavras, fica até difícil comentá-la em poucas linhas.
Vejo que estás aperfeiçoando o uso da "querência". Magnífico. Minha querência é sentir, ou seja, meu lar é sentir. Poesia em prosa. Vida.
E a hora em que se forma o sorriso, não monolítico mas monalísico, não é a hora de se pensar em certo e errado (este pensar pode vir depois). É, sim, a hora das possibilidades. Quantos convites escondes em teu sorriso, e quantos sorrisos escondes em teu sentir?

Marcelo disse...

Brilhante.
Já te falei mil vezes que adoro seu jeito de escrever.
Simples e perfeito, te leva num mundo onde todos os gafanhotos são poetas. E onde os dinossauros sentam e escutam horas e horas essas poesias, mesmo que a cara delas seja da mais cruel dissertação.
Amei, vou ler e acompanhar sempre. Voa alto gafanhota, um dia vou querer seu atógrafo no livro.

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